A página do nosso Professor

Um excelente post para o blogue "temas contemporâneos" e um belo tema para a aula de dia 22.

O BRASIL REAL  (video)


Para a nossa aula de 08 Maio de 2014

Teremos o seguinte texto do filósofo José Gil:


"Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter onde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stress, depressões, patologias, border-line, enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores.
Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens). O presente não é uma dimensão abstracta do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direcções.
Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público. Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais.
O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se.
Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efectiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.
Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam.
Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço, continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português.
Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de acção. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."

Artigo publicado no Público, a 5 de Maio de 2014

O Mercado das "BARRIGAS de ALUGUER"


Para ler este artigo completo basta clicar no título acima sublinhado
APRESENTAÇÃO

Este texto é o mais importante de todos quantos aqui venham a aparecer em meu nome pela simples razão de ser o primeiro...é que não vou escrever obras-primas nestas páginas, mas procurarei falar com cada um e todos vós, não somente acerca daquilo que vamos falando nas aulas, como também do que vai surgindo nos intervalos e nas nossas cabeças.
Claro que já compreenderam que esta página, como todo o blogue, se deve à Luísa Bernardo, assim como outras realizações nossas se devem a ela, a mim e ao José Capelo, porque isto não há aqui primas-donas! 
E o resto deve-se ao colectivo - somos nós todos que simplesmente logramos avançar, pensar e irmos gostando de estar juntos.
E agora não escrevo mais, senão não saio daqui e vocês habituam-se mal...
Joaquim Letria

2 comentários:

  1. Habituarmo-nos mal é não vir aqui à procura dos segredos do nosso espírito, do que fica por dizer nas aulas e que é possível, provavelmente, expressar numa coluna escondida deste recôndito espaço do blogue...
    É um gosto ouvi-lo ou lê-lo ou senti-lo na simplicidade das palavras que dita. Obrigado.

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  2. Do texto do filósofo José Gil destaco apenas a simplicidade das palavras para dizer coisas tão fortes. Fantástico texto.

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